quarta-feira, 17 de junho de 2015

A paixão pela amarelinha e os torcedores mirins


Uma das primeiras lembranças que tenho de minha infância, certamente a primeira relacionada a futebol, data de quando tinha apenas oito anos: 30 de Junho de 2002. Estava com meus pais e meus tios em casa e posso ser preciso nos números graças ao que esta data representou. Foi nesse dia, no Estádio Internacional de Yokohama, que o Brasil venceu a Alemanha por 2 a 0 e se sagrou penta campeão mundial.

Aquela foi a primeira e única Copa sediada no continente asiático e aconteceu na Coréia do Sul e Japão. Foi também a minha primeira Copa como torcedor e com os olhos vidrados na TV. Não vou mentir e dizer que me lembro do decorrer do jogo decisivo, mas minha memória passa por dois momentos cruciais: os gols e a comemoração final.

Lembro-me dos dois tentos marcados pelo Brasil, em especial do primeiro, em que Ronaldo pega o rebote de Oliver Kahn no chute de Rivaldo. Lembro de ter ficado chateado durante algum tempo por saber que o alemão havia vencido o prêmio de melhor jogador da Copa, mesmo antes de a final acontecer. Depois do apito do juiz, a festa foi enorme, muito por conta da decepção e sofrimento que 98 representou para os brasileiros e pela forma como a Seleção conseguiu a classificação para o Mundial na ultima rodada das Eliminatórias, vencendo a Venezuela.

No meio de toda a alegria daquele povo e depois de ser jogado para o alto diversas vezes, recordo-me de um pensamento que passou por minha cabeça: “É claro que ganhamos, Deus não permitiria que fôssemos derrotados”. Evidente que aquela altura eu não tinha base para crença religiosa de tipo algum, mas por mais absurdo que aquela afirmação possa soar, à época ela fez todo o sentido.


Muitos anos depois, meu tio contou-me que foi obrigado a me dar um “chacoalhão” no dia da final, porque eu, empolgado com a decisão, não parava de fazer barulho com uma trombeta que havia ganhado do meu avô. Talvez isso explicasse minha frase descabida de menino e a certeza de vitória vinha justamente pela festa e pelo sentimento que cada jogo da Seleção produzia no país. Se aquele garoto ainda estivesse com 8 anos e assistindo a Copa América de 2015 em casa, a situação seria bem diferente.

Claro que o torneio não tem a mesma projeção de uma Copa do Mundo, mas em seu próprio lar, o garoto veria o desinteresse pela amarelinha: qualquer filme, série ou mesmo VT do Campeonato Brasileiro parecia mais interessante que o jogo dos comandados de Dunga. Responsabilidade do 7 a 1, do futebol pífio e das polêmicas dos dirigentes, que fazem com que a população enxergue o “O time da CBF ” e não a Seleção Brasileira. E quem pode culpá-los? O time não tem jogadores do nível da dupla Rivaldo e Ronaldo como em 2002, que dirá encantar como em 58, 62 ou 70. É um time burocrático e que vive dos lampejos de um só craque.

Neymar carrega a equipe nas costas, mas não é forte o suficiente para promover uma reformulação no futebol nacional. David Luiz, limitações técnicas à parte, tentou chamar o povo brasileiro para perto da seleção, mas não tem poderes para colocar os envolvidos com corrupção na cadeia. Neymar e David Luiz não são super heróis, mas tem o poder de resgatar, começando por meninos como do início deste texto, a vontade de torcer pela Seleção.

Neymar poderá trazer de volta a paixão de crianças e adultos pela seleção?