domingo, 28 de junho de 2015

Análise Tática: Mais um vexame amarelo

Análise Tática: Mais um vexame amarelo

O Brasil teve uma mão na vaga e outra na bola. Quem são os culpados?


Quatro anos depois e o filme se repetiu. Brasil, Paraguai, quartas de final e pênaltis, combinação que mais uma vez deixou a Seleção Brasileira de fora da Copa América em uma partida com diversos ingredientes e distintos panoramas. O time de Dunga começou o jogo com um claro problema na saída de bola, mas o treinador modificou a equipe em campo e parecia que o Brasil passaria por uma partida sem grande sufoco. O Paraguai tinha muita dificuldade para criar, mas o nervosismo do, até outro dia, "melhor zagueiro do mundo", permitiu o empate paraguaio que, nos pênaltis, mandou os brasileiros de volta pra casa. Agora, os culpados tem que ser identificados.

O início de jogo foi problemático. Dunga optou por armar a equipe em um 4-2-2-2 (figura abaixo) apostando na saída de bola com os laterais, e cobertura dos volantes Fernandinho pela esquerda e Elias pela direita. A estratégia não funcionou porque o Paraguai, armado em um 4-4-1-1 bloqueava bem a saída pelos lados do campo e o Brasil sofria sem um jogador centralizado para armar o time, sendo obrigado a dar chutões da defesa.


Brasil encaixotado e Paraguai no campo defensivo. Esquema durou apenas 13 minutos.

Dunga percebeu o problema com certa rapidez e, antes dos 15, alterou sua equipe, passando para um 4-2-3-1 (figura abaixo) enquanto tinham a bola. Destaque para a movimentação de Robinho que, desde o princípio, buscou chamar o jogo e teve boa movimentação pelo esquerdo no 4-2-2-2 e pelo centro no 4-2-3-1, sempre buscando inverter de posição com Philippe Coutinho, que também teve uma partida acima das anteriores.


Brasil passou a jogar mais pelo meio de campo após a mudança de esquema

Foi desta forma que os comandados de Dunga abriram o placar. Robinho dominou a bola e passou para Elias, que abriu na direita com Daniel Alves, enquanto o eterno menino da Vila se deslocava para área, onde apareceu livre para finalizar. Com a vantagem no placar, o Paraguai tentou ir ao ataque, mas esbarrava na marcação brasileira, armada num 4-1-3-2 (figura abaixo) que impossibilitava o adversários de sair de seu campo de defesa sem dar chutão.

Brasil fechado com Robinho adiantando a marcação e Elias preenchendo o meio

Apesar de não jogar um futebol vistoso e sofrer com a falta de um centro avante de origem, já que Firmino na verdade é meia, a Seleção tinha uma atuação segura e, com exceção de um escanteio que obrigou Jefferson a fazer uma boa defesa, não levava grandes sustos. Isso até Thiago Silva entrar em cena e proporcionar mais uma mostra de nervosismo e insegurança para a equipe.

O zagueiro, considerado por muitos como o melhor do mundo, já havia chorado, ficado de costas e pedido para não bater nenhuma penalidade nas oitavas de final da Copa do Mundo, mas desta vez foi além. Repetiu o que já tinha feito neste ano pelo Paris Saint Germain, novamente nas oitavas, só que pela Champions League, e em um lance bizarro e inexplicável, subiu para disputar a bola de cabeça com o braço tão alto que parecia estar jogando volêi. O resultado não podia ser diferente: pênalti para o Paraguai, tudo igual no placar e a Seleção agora precisava do gol para evitar os pênaltis.

Desorganização foi a palavra que melhor definiu a Seleção de Dunga após sofrer o empate. O padrão tático que não permitiu ao Paraguai criar grandes chances, simplesmente desapareceu, e o time passou a atacar com todos os jogadores em campo (figura abaixo). Dunga ainda pecou nas substituições por tirar Robinho, o melhor jogador em campo, e William que talvez fosse o jogador mais regular da Seleça nessa Copa América.

Brasil foi para o tudo ou nada ao final da partida

Nos pênaltis, o Brasil mais uma vez demonstrou como é formado por jogadores que não tem força psicológica para vestir a camisa amarelinha. Não basta ter qualidade técnica para vestir essa camisa, não basta ser considerado "o melhor do mundo" se você não consegue provar isso dentro de campo através de sua liderança. Éverton Ribeiro e Douglas Costa desperdiçaram suas cobranças e o time agora volta pra casa. 

Mas, será que a eliminação foi tão ruim assim? Pensamos da seguinte maneira, se a bola de Pinilla, na prorrogação das oitavas de final da Copa do Mundo contra o Chile tivesse entrado, ao invés de ter batido no travessão, poderíamos ter nos poupado do 7 a 1. No caso da Copa América, talvez essa eliminação nos poupe de sofrer algo parecido contra a Argentina.

Os maiores e verdadeiros culpados precisam ser punidos. Na foto, José Maria Marin

Ao mesmo tempo, a saída da Copa América pode acarretar o que a derrota para a Alemanha já devia ter feito: uma mudança no futebol nacional. Mudança de mentalidade e de estrutura, por uma seleção que após ser eliminada, não diga que foi por conta de um apagão, que não ponha a culpa na poluição de Santiago, que não apareça para a coletiva com a carta da Dona Lúcia em mãos para justificar seus erros, que não diga que os afro descendentes gostam de apanhar e que sim, tenha cada vez mais cartola corruptos presos. Afinal, Dunga tem culpa pelo mau trabalho, assim como tem a imprensa que exaltou as 10 vitórias seguidas durante os amistosos de preparação, mas a culpa maior é daqueles que estão isolados em Boca Ratón ou vendo o Sol nascer quadrado em Zurique.