O preço das vitórias e o público que não aprendeu a torcer
Dunga vence a 10º consecutiva e esconde problemas apontados após o 7 a 1. Nos amistosos, plateia permanece em silêncio, com curiosas exceções
A seleção brasileira venceu Honduras nesta quarta feira (10) por 1 a 0 com gol do meia atacante Roberto Firmino do Hoffenheim. A vitória, mesmo pelo placar mínimo, representou uma marca histórica para o técnico Dunga e seus comandados: 10 vitórias seguidas. O recorde evidentemente está longe de apagar o vexame dos 7 a 1, mas parece encobrir a ausência de mudanças exaustivamente pedidas ao final da Copa do Mundo. Ao mesmo tempo, a paixão do povo pela amarelinha, parece ainda não ter se recuperado.
Roberto Firmino fez o único gol na vitória contra Honduras
Com triunfo frente os hondurenhos, Dunga ultrapassou a marca de João Saldanha, que chegou a 9 vitórias seguidas no final dos anos 60. O recorde e a sequência de resultados positivos, gera elogios ao time do atual treinador e parece diminuir a demanda por profundas alterações no futebol brasileiro. Categorias de base melhor estruturadas, êxodo de jogadores, formação de novos talentos e aprimoramento tático e técnico de jogadores e treinadores foram apenas algumas medidas exigidas e discutidas ao final do mundial e que agora passam a ficar de lado. É como se essas dez partidas tivessem transformado o futebol brasileiro e todos os problemas estivessem superados por um pseudo bom início de trabalho. Pseudo sim, pois o teste real para Dunga chegará agora, na Copa América que tem tudo para ser a melhor da história.
Nos dois últimos amistosos do Brasil, pudemos verificar atitudes interessantes nas arquibancadas. Melhor dizendo, cadeiras, nos novos Beira-Rio e Allianz Parque. Na partida em São Paulo, a torcida permaneceu em silêncio durante os 90 minutos, à exceção de três momentos: gols, escalação e gritos da torcida palmeirense. Ao serem anunciados os nomes no alto falante, um dos mais festejados foi David Luiz, que junto com Fernandinho, é o único remanescente da equipe titular no fatídico 7 a 1. As vaias só vieram para um jogador em especial: Fred. Acontece que os mais de 35 mil pagantes na Arena, não sabiam que o Fred anunciado, era o volante ex-Internacional e atualmente Shaktar Donetsk da Ucrânia, os espectadores imaginaram que se tratasse do atacante, que teve participação pífia na Copa do Mundo.
Fred, Filipe Luis, David Luis e Tardelli: Seleção venceu no Allianz Parque
Escrevo espectadores para me referir aos pagantes no Allianz, não por acaso. São de fato, espectadores, um público de teatro que só se tornou torcida quando cantos de “Olê porco” foram entoados pelos palmeirenses presentes. Os brasileiros parecem não ter aprendido com as torcidas sul-americanas durante a Copa, uma vez que a situação no Beira-Rio se repetiu, mas de forma ainda mais absurda. É bem verdade que a seleção não fez uma boa partida contra Honduras e passou longe de dar espetáculo (novamente, o que querem os espectadores), mas vaiar a equipe, mesmo com uma vitória, é sim, absurdo. Pense em outra situação, você vaiaria o seu time, se o mesmo tivesse jogado mal e conquistado uma vitória? Provavelmente não. Claro que os presentes tinham o direito de vaiar, pagaram ingresso pra isso, mas também tinham a obrigação de apoiar, coisa que não ocorreu em nenhum momento durante o jogo. Se é pra ficar calado, assista o jogo de casa.